Com quantos paletes se faz uma reforma?

Geeeente, vocês não imaginam o susto que levei outro dia. Olha, eu já vi muita coisa estranha nessa vida – vá por mim, quando você é estudante de Biologia e faz estágio de vivência em localidades rurais, você realmente se surpreende todos os dias com as estranhezas -, mas com o que eu vi por último… Cruz credo. Meu namorado e eu resolvemos trancar a universidade e passarmos um semestre inteiro nos dedicando full-time a um projeto com nossa professora num vilarejo rural que ficava, literalmente, no meio do nada.

Para facilitar as coisas, decidimos nos mudar, em caráter temporário, para uma casa que estava vazia lá perto do vilarejo, mesmo. Eu não conhecia a casa por dentro, mas meu namorado foi lá conhecê-la e voltou dizendo que era uma casa muito bacana e com uma pegada bicho-grilo, meio surreal. Quando ele falou isso, imaginei aquelas casinhas de comunidades alternativas onde eles usam pedaços de vidro colorido pelas paredes, pra dar um ar meio exotérico. Achei legal! Contratamos um caminhãozinho, jogamos nossas tralhas dentro e partimos. Ah, meu Deus…

Sim, porque só Deus na causa. Chegamos lá e já gostei do visual da casinha por fora, apesar de não parecer assim tão exotérica. Até imaginei que podia ser pra não destoar das outras, o que fazia sentido. E reparei que o terreno onde ela estava era super irregular, mas nada que uma terraplanagem lá dentro não resolvesse, não é? Aí entrei. E saí em menos de dois minutos, xingando Digão de tudo que era nome; ele assustou tanto que deixou o palete (que era nossa cama) cair no chão e quase lhe acertar os pés.

cama de paletes

Mondrian Feelings

– Digão, você é doido?? Você é cego??

– Quê isso, mozinho?? Quê que eu fiz??

– Digão, cada cômodo da casa tem uma altura diferente, cê num reparou isso não?? Parece que no lugar do esquadro usaram um quadro do Mondrian pra nivelar esse piso!

– Vi, uai! Legal demais! A cozinha é mais baixa que a sala, o banheiro é mais alto que o quarto… achei massa! Parece casa de elfo!

– CASA DE ELF…! (respirei) Olha… Digão, pelo amor de Deus… é aqui que a gente vai passar seis meses? Tá falando sério? Me diz que é gozação… E os meus joelhos, Digão, me diz? Eu tenho problema nos dois, e vou ter que ficar subindo e descendo degrau para chegar no cômodo do lado??

Ele ficou pálido. Nem lembrou que eu tinha esse problema e só quando falei sobre isso é que ele percebeu como aquela casa “tão bacana” exigiria de mim. Chegou a começar a colocar o palete de volta no caminhão, como que desistindo da mudança, mas eu pedi pra parar.

– Desce isso aí, vamos descarregar aqui mesmo. A gente vê o que faz.

Nivelamento gambiarra

Não tinha muito o que fazer. O dono da casa não refaria o nivelamento – até porque teria que renivelar todo o teto também. Eu estava sem palavras praquela situação, tamanho o absurdo daquela construção! Quem projetou ou construiu aquela casa devia estar matando a sede com chá de cogumelo durante a obra.

Mas aconteceu que, quando colocamos o palete no quarto onde dormiríamos, notamos que ele compensou quase toda a diferença de altura entre o piso do quarto e o do banheiro. Não ficava 100%, mas ficava quase. Chamei Digão e mostrei pra ele. Imediatamente enxergamos a solução. “Bora paletar tudo isso aqui”.

E saiu barato! Os cômodos não eram muito grandes, então com no máximo oito paletes (tudo comprado do dono do mercado) em cada um nós quase que “paleplanamos” a casa toda. Obviamente ficaram bordas sem palete, e não caberia outro ali, então pusemos tijolos para completar esses pedaços e firmar os paletes (e nem compramos esses tijolos, porque pegamos do resto da “obra”). Aí sim a casa ficou diferente! A limpeza é que ficou complicada, porque se varresse caía tudo por debaixo das ripas, mas combinamos de tirar tudo uma vez a cada dois meses pra cuidar disso.

Mas uma coisa eu digo a vocês: vai se mudar? Então vai lá conhecer a casa antes. Não confie só no seu namorado, ainda mais se ele for meio “alternativo”!

 

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