Animal em casa? Use paletes

Já faz alguns anos (décadas, na verdade) que as pesquisas vêm mostrando uma mudança de comportamento interessante: muita gente tem preferido sair da casa dos pais e ir morar sozinho ao invés de só sair quando for estudar ou se casar.

O próprio comércio já conseguiu realizar um traçado do comportamento dos consumidores, demonstrando que os hábitos de compra destes consumidores em específico são diferentes daqueles que moram com mais pessoas, especialmente os que constituíram família.

Não apenas a quantidade de produtos a cada compra é menor, mas também a qualidade e o tipo de produto são mais específicos. Por exemplo, é mais comum vermos consumidores que moram sozinhos comprando produtos orgânicos do que aqueles que têm família em casa.

O estilo da casa destes consumidores também é diferente – afinal, já que não tem mais moradores na casa, pode-se aplicar a ela o estilo que o indivíduo bem entender, combinando as peças e as cores ou não, enchendo a casa de objetos ou optando por espaços mais clean. Até aí nada, de mais, certo?

O problema é quando este morador solitário resolve adotar um animal de estimação – vamos dizer que seja um gato. Ele não vai dar opinião sobre como ele decorou a casa, mas pode colocar à prova as escolhas que ele fez quando a única criatura viva ali era ele. Lembro de um amigo engajado em reciclagem de materiais que usou paletes pela casa toda para organizar seus sapatos, as vidrarias da cozinha e o jardim de inverno da sala. Se ele tivesse imaginado a vida com um gato, cinco anos antes, não teria usado esse recurso de jeito nenhum.

Gato e seu palete

Escalador profissional

O apartamento dele não era dos maiores, mas também não era pequeno. Tinha dois quartos de bom tamanho, um banheiro razoável e uma pequena cozinha integrada com a lavanderia. Nessa cozinha, ele colocou um palete parafusado na parede contrária ao fogão e pendurou ali os vidros de temperos, já que o armário era pequeno e ele precisava liberar a maior quantidade de espaço possível.

Até aí tudo bem, até o gato chegar em casa, se adaptar super bem e começar com o “comportamento atrevido” (segundo esse amigo) de pular e tentar arrancar os vidros do lugar. Afinal, eram pendurados, né? Nada melhor para atrair um gato. Os vidros mais baixos precisaram ser retirados depois que o bichano conseguiu derrubar um no chão, fazendo uma bagunça de vidro quebrado com orégano fresco.

Isso não passou de um inconveniente, mas o que deixou meu amigo arrepiado foi quando o palete do quarto caiu sobre o bichano. Nesse palete, só apoiado na parede, ele deixava os sapatos enfileirados, com os bicos enfiados entre as ripas. Lá foi o gatinho tentar catar um sapato – e foi nessa que o palete desequilibrou e caiu sobre ele, que conseguiu tirar o corpo a tempo, mas não uma das patas de trás. Lógico que o gato deu um berro e, meu amigo, outro.

Chama o vet!!

Lá foi o coitado, desesperado com o gato no banco de trás do carro cortando o trânsito inteiro (deve ter levado alguma multa, pelo traçado que ele me revelou depois). Resultado: cirurgia para recolocar os ossinhos do bichano no lugar, talas, colar elisabetano, remédios para dor durante um mês. O palete do quarto ele até pensou em remover, mas depois de pensar com mais calma ele viu que não conseguiria organizar os sapatos direitinho de outra forma. Acabou parafusando na parede, assim como o da cozinha.

A essas alturas, tudo que poderia ser alcançado pelo gato foi mudado de lugar. Vasos de plantas mais leves foram colocados em prateleiras mais altas; o abajur de chão perto da poltrona foi trocado por um pendente de teto e o palete da cozinha foi parafusado mais alto para que os suportes mais baixos pudessem voltar a ser usados sem o risco do gato alcançá-los.

“É como ter uma criança pequena em casa por 15 anos”, meu amigo disse. E é verdade. Animais não têm discernimento para compreender certos riscos – e nem os desaforos que seus donos precisam engolir quando eles estragam alguma coisa. Assim como as crianças pequenas. Só que crianças pequenas crescem e tomam juízo – animais, não.

Todo cuidado é pouco.

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