O grande caderno azul – I

O GRANDE CADERNO AZUL

I

Tarde na grande sala pequena de III Casa Bamba/Vila Embratel. Com uma daquelas monstruosas ressacas pós-natalina. Estreando esse grande caderno azul. Pela manhã comprei uma caneta que não funcionou e passei a manhã toda sem escrever. Graças a minha cunhada companheira de Professor achou uma delas com a pequena Clarinha que a escondia de mim. Perdi o diário anterior no dia de natal, muito doido de álcool em companhia de Dr. Oswaldo, fizemos uma incursão nos baixios do campo do Piancó na casa de Lourival. O cheiro forte de urina de cão emana da capa do sofá. A mão esquerda com o dedo mindinho acidentado não quer sarar. Lendo Soljenitzin “A Mão Direita”. Meu filho apareceu aqui na véspera do natal, enchendo-me de alegria e esperança, depois de um pequeno desentendimento com a pequena Larissa, confesso que fui culpado por ter me exasperado atoa. Mas deixa pra lá, passou incólume. Olhei Dona Van, o grande amor da minha vida, a minha eterna June quando fui deixar o meu filho na casa deles. Ela estava exuberante como sempre com a cara enfezada sentada na calçada alta em frente o muro da casa de Seu Carrinho Cotia conversava com sua grande amiga Dona Sebá. Trocamos algumas palavras, mas não adianta ela não gosta de mim. O corpo um pouco febril
O corpo dolorido, parece que fui socado a ponta pé. Minha cunhada volta da rua. Antenor, o deficiente visual casado com minha sobrinha Sara no computador. Concluir a leitura do livro do russo Soljenitzin e volto a ler com entusiasmo “Luis Lambert” do grande mestre Balzac. A cadela late no quintal. Clarinha atentada e irrequieta faz as suas no terraço. O odor típico do meu calçãozinho preto sujo. Estou um caco, esses grodes natalinos quase provocaram a III Guerra aqui no sagrado lar dos Bambas. Fui intolerante, autoritário e acabei discutindo com Larissa.  Essa minha bebida esta me tirando do meu rumo. Por que será estou embriagando-me constantemente e ficando agressivo, discutindo besteira e não respeitando o próximo?  Levanto-me para fechar a janela do quarto onde durmo. O dedo latejando como sempre. Professor, o meu irmão mais velho, o chefe honorário da clã acordou ainda pouco, banhou-se e tornou sai para a noite. E o caderno azul. Fraco debilitado pelo uso abusivo de álcool, como se fugisse da realidade e procurando na bebida uma realização impossível . Tudo que quero é me reencontrar como ser humano e levar uma vida tranquila longe desse maldito vicio que aos pouco corrompe a minha alma e a consciência. A cachorra Chambinho eufórica com a chegada de Sara e do amiguinho dela, o ducado e tímido Ruanzinho, sobrinho de Dona Lourdes deu uma chicotada com o rabo no dedo acidentado. A garganta irritada, o estômago arreliado e o dedo, nem se fala. Tudo me chateia, não vejo graça em coisa alguma – escrever e ler  são os meus refúgios nesses momentos delicados.
– Antenor tu não quer jantar? – Pergunta a paciente esposa.

Noite
Banhei-me, sinto fome mas sem vontade de comer. Bebo agua.. o corpo fragilizado e moído assim como o meu sofrido ego. Isolado no meio do nada. A busca desenfreada da embriaguez não me leva a nada, puro retrocesso. Trabalharei na oficina somente na segunda-feira, descansarei um pouco lendo Balzac e Anatole France. Minha cunhada sentada na cadeira catando a abusada de sua cadela Chambinho, toda noite é essa mesma rotina. Preocupado com a minha saúde que parece não melhorar em nada, acho que devido as cachaças que ingeri, a mão não desinchou. Ontem enchi a lata como de praxe nem sei como cheguei aqui. Très fou – Ainda bem que não procurei conversa, agora virou moda de minha parte encher a cara e falar coisas sem nexus, desrespeitando as pessoas, chamando palavrões desnecessários. Tenho que parar com essas situações constrangedoras no dia seguinte. Quase uma semana sem digitar o meu romance “Além das Névoas Azuis” que faltam poucas folhas para a conclusão. Finalizei a boa leitura de “Luis Lambert”. Estou no quarto que durmo, sentado na beira dos colchões. Um grilo solitário em algum canto tenta atrai uma companheira para acasalarem, um cão late ao longe, um ônibus que passa na avenida deserta. Professor roncando, o barulho do motor do ventilador no quarto de Larissa. O dedo doendo e eu na minha solidão de sempre com os mosquitos perturbando nos meus ouvidos.

II

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