Trissomia 21 e aprendizagem

Trissomia 21A trissomia 21 foi estudada pela primeira vez em 1866 por Langdon Down em Inglaterra, daí que frequentemente esta doença surja com a designação de Síndroma de Down. Uma das outras designações possíveis, embora em desuso, dadas as suas conotações racistas, é o termo de mongolismo, achava-se que os aspetos morfológicos destes indivíduos: cabelo escuro, escorrido e pouco abundante, face arredondada e achatada, nariz pequeno, pele clara e sobretudo os olhos rasgados, os aproximavam dos indivíduos mongóis. A trissomia 21 é também a causa genética mais comum para a deficiência mental, implicando esta, necessariamente e para além de outras dificuldades peculiares e que variarão consoante o grau de deficiência, um desenvolvimento mais lento do que o verificado nas restantes crianças.

O risco de ocorrência deste síndroma aumenta com a idade da mãe, quanto mais tardia for a maternidade, maior é a probabilidade de ocorrer, quando se é mãe aos 20 anos, a sua frequência e de 1 para 2000 nascimentos, aos 35 anos já é de 1 para 300, entre os 40 e os 45 anos é de 1 para 100 e após os 45 a probabilidade situa-se já num nascimento por cada 50. Em Portugal estima-se que existam entre 120.000 a 150.000 casos desta síndrome. O fenótipo destas crianças apresenta, logo após o nascimento, sinais evidentes da doença que a tornam facilmente identificável, segundo Fried (1980) esses sinais são: abundância de pele no pescoço; cantos da boca virados para baixo; hipotonia; face achatada; orelhas displásticas; epicanto da prega dos olhos; intervalo entre o primeiro e o segundo dedo e proeminência da língua. Perante estes indícios o médico deverá solicitar um estudo cromossómico, de natureza genética, de modo a que possa confirmar o diagnóstico.

A trissomia 21 é a causa genética mais frequente para a deficiência mental, modo de dizer que todo o portador desta patologia apresentará um défice cognitivo, contudo na larga maioria dos casos o grau de deficiência não é severo, a maioria das crianças posiciona-se dentro das categorias de “moderado” e de “leve”. Mesmo nos casos moderados e leves as capacidades intelectuais destes indivíduos podem não ser suficientes para a elaboração de juízos críticos profundos ou raciocínios complexos o que não significa necessariamente que os pais destas crianças, percam de vista que os seus filhos se possam tornar em pessoas autónomas, livres e inseridas na sociedade realizadas pessoal e profissionalmente.

Pela deficiência mental o seu desenvolvimento intelectual será mais lento e os seus progressos menos notórios. As aprendizagens necessitarão de uma maior maturação, estruturação e orientação. Ocorrerão a um ritmo inferior às das crianças ditas normais e isso em resultado de um padrão de problemas que, com frequência, se encontra nos portadores de trissomia 21, e que podem ser esquematizados da seguinte forma:

Memória – A literatura aponta problemas na memória a curto e a longo prazo, sobretudo na recuperação de informação que foi captada através da audição e na recuperação de informação lexical. Existem técnicas que podem minimizar estas dificuldades por exemplo, a repetição da informação a ser retida, transmitindo-a de múltiplas formas, por exemplo complementando-a com apoios visuais ou seja, não recorrendo somente à oralidade.

Linguagem – Muitas das vezes os relatos de crianças com trissomia21 parecem sugerir alguma incoerência que se deve ao modo como a criança estrutura o espaço e o tempo e das dificuldades em operar sínteses entre situações novas e experiências anteriores, relacionando informações. Verificam-se atrasos no desenvolvimento da fala e na aquisição da linguagem que poderão ser mitigadas através do recurso aos sistemas de comunicação alternativos e aumentativos: Por norma, a aquisição da linguagem acontece, embora com um maior atraso, sobretudo na linguagem expressiva – isto é no domínio da linguagem onde o indivíduo é verdadeirmente o emissor da mensagem.  No domínio compreensivo da linguagem – onde o indivíduo é o recetor da mensagem, a sua evolução, ainda que mais atrasada no tempo, é mais eficiente.

Estas dificuldades poderão ser resultado de todo o seu sistema corporal que não favorece uma verbalização adequada, mas também dos problemas auditivos que com frequência se registam ou de uma deficiente estimulação. Infelizmente este último aspeto nem sempre é valorizado em abordagens que se centram em exclusivo sobre as limitações do sujeito, esquecendo que os contextos onde o indivído se insere, por exmplo a escola e a família, tem o dever de se constituirem como facilitadores do seu desenvolvimento. Com frequência, crianças com Trissomia 21, não são devidamente estimuladas, por se achar que não há nada a fazer o que conduzirá ao embotamento de todo o seu potencial.

Exploração do mundo – Em situações em que as crianças com trissomia21 estão em interação com a mãe e diversos objetos, estas focalizam mais a sua atenção para a mãe, ou seja, não exploram com tanta frequência o mundo exterior com o consequente empobrecimento de aprendizagens daí resultante, por isso estas crianças ganham se usufruírem de um ambiente estruturado, orientado para a aprendizagem e as aquisições que se queiram promover. Os níveis de atenção são também diferentes dos verificados nas outras crianças, preferindo muitas vezes a criança o que já conhece em relação ao que se apresenta como sendo novidade.

Estrutura Cerebral – O próprio processo de aprendizagem pode ser diferente do das crianças ditas normais devido a alterações neurológicas estruturais responsáveis por anomalias sinápticas que afetarão posteriormente o modo como a criança responde aos diversos estímulos que recebe, as investigações realizadas sugerem um menor número de dentrites e alterações na sua estrutura, daí a menor eficácia na transmissão sináptica. Alguns estudos apontam para que a informação auditiva-verbal é processada com maiores problemas do que aquela que resulta de estímulos visuais, decorrente deste aspeto verifica-se uma menor proficiência nas suas respostas às instruções que lhes transmitem, daí que a sua conduta, mesmo quando perfeitamente adequada, radica mais na imitação e observação. A determinação rigorosa da forma como a criança processa e entende a informação que recebe assume particular importância, porquanto, a partir daqui, os profissionais que interagem com a criança, poderão assumir a diferenciação pedagógica concebendo dispositivos didáticos que se adequem ao estilo de aprendizagem da criança.

Do exposto torna-se claro que algumas das característica diagnosticadas nas crianças com Trissomia 21 são passíveis de diminuírem as capacidades destas crianças, se as compararmos com os padrões das que são consideradas normais. Contudo, este dado, apenas deve sublinhar o maior esforço, comprometimento e implicação de todos os que com ela interagem no sentido de iludir as suas dificuldades. Geralmente considera-se a deficiência como uma característica intrínseca do indivíduo, contudo, as mais das vezes essa característica opera dentro da própria sociedade, basta que pensemos nas barreiras arquitetónicas que inibem movimentos a determinadas pessoas que, sem essas barreiras, teriam uma maior facilidade na sua ação.

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