A História do Chá: 1000 variedades de chá e mil maneiras de o beber

A História do Chá

Três mil milhões de consumidores no mundo, mil variedades de chá e mil maneiras de o beber. É uma espécie de bebida universal. O seu único concorrente: a água.

Na época em que os imperadores chineses ainda eram deuses e a sua única preocupação era a felicidade do homem, Cheng Nung, o último dos três imperadores míticos, decidiu que para prevenir doenças era necessário beber água fervida.

Tea Farms - Palampur HP

Ajudado pelo vento e pelo sopro divino, Nung descobriu, durante uma sesta, o chá. Quando acordou, as folhas tinham-se infundido na sua chávena de água fervida. Achou o sabor delicioso e deu um nome à árvore desconhecida.

A rota do chá Partindo da China, o chá foi primeiro conquistando os países vizinhos. A partir do século VII, encontraram-se os primeiros sinais de importação no Tibete, na Coreia e no Japão. O chá seguiu a rota da seda, mas a sua expansão permaneceu confidencial. Os caravaneiros introduziram o seu consumo nos caminhos para o Ocidente, nos oásis e nos caravansarás. Mas apenas era usado para troca. Graças ao mar e à rede de companhias de navegação portuguesas, holandesas e inglesas, o chá acaba por chegar a outras regiões. Para o Império britânico, o controlo da produção de chá tornou-se uma aposta prioritária.

Os ingleses conseguiram introduzir o chá na ilha de Ceilão em 1839, mas a qualidade da produção continuava a ser medíocre. Disfarçado de mercador chinês, Robert Fortune foi enviado pela rainha Vitória para descobrir o segredo de produção ciosamente guardado pelos chineses. Quando terminou a sua missão, a Inglaterra veio então a desenvolver grandes casas de chá. Algumas personalidades conseguiram ficar famosas. Entre elas estavam Thomas Twining e Thomas Lipton.

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O primeiro, proprietário de duas casas de chá, ficou rapidamente famoso ao proporcionar provas de chá e ao abrir casas de chá para senhoras, que não podiam frequentar os cafés onde também se vendia álcool. Durante o século XVIII, a casa Twining tornou-se um império financeiro e, em 1837, Richard Twining obteve uma patente de fornecedor registada pela rainha e pelo príncipe de Gales. Por sua vez, Thomas Lipton teve a esperteza de utilizar métodos de publicidade aprendidos na América. Abriu a primeira casa em Glasgow e quando se estabeleceu em Londres já era milionário.

Entusiasta dos barcos, tornou-se famoso ao participar regularmente na Taça Americana. Este excêntrico milionário foi o primeiro a receber o título de nobre da rainha, em 1902. Ainda hoje, o seu nome é sem dúvida um dos mais conhecidos no vasto mercado do chá.

Os chás, como os vinhos, têm as suas grandes regiões demarcadas a que se chamam jardins. Localizados a grande altitude, estes beneficiam de condições climáticas ideais e a colheita nunca é mecanizada. A maioria das vezes é confiada às mãos experientes das mulheres. Estas produzem chá de elevada qualidade que é vendido em folhas inteiras. Entre eles, podemos saborear o sabor afrutado de um Saint James of Uva, o requinte de um Pettiagalla ou o corpo de um Pi Lo Chung.

As qualidades do chá

Toasts

“O chá é uma obra de arte e necessita da mão de um mestre para realçar as suas qualidades mais nobres. Há chá bom e mau, tal como há quadros bons e maus, na sua maioria maus, e não há mais receitas para fazer chá do que para pintar um quadro de Ticiano ou de Sesshu” (Okakura Kabuzo).

O chá mereceu o seu nome. Cada variedade tem a sua especificidade e os seus segredos. A água tem de ser escolhida com cuidado, porque revela os sabores e os aromas. A sua temperatura também é importante, já que uma fervura prolongada elimina a água, estraga as folhas de chá e neutraliza os sabores. Os puristas têm vários bules e cada um está adaptado a uma única variedade de chá. Um bule de vidro é para chás aromáticos e um de metal para chás encorpados. O toque final para uma preparação perfeita é a duração da infusão. Esta tem de ser diferente para cada chá. Tem de ser interrompida no momento exacto em que os aromas são libertos.

Independentemente da cultura, o chá é sempre a base de uma arte de viver. No Japão, o acto de beber chá é uma cerimónia. A prova do chá é um prazer requintado entre amigos ou uma homenagem a um convidado distinto. Reflecte a arte de viver japonesa onde a estética encontra a filosofia.

A arquitectura, a arte dos jardins, as decorações florais e os utensílios do chá fazem todos parte desta cerimónia onde a nobreza e a pureza de cada objecto permite que todos encontrem a serenidade e a contemplem.

“Temos de beber chá para esquecer a confusão do mundo” (T’ien Yi’’Heng).

Tea in a measuring cup Canadian style!

No Médio Oriente, o primeiro sinal de hospitalidade é o pequeno copo decorado com cores vivas de onde o doce aroma de chá de hortelã emana. Este é preparado frequentemente pelo chefe de família. Durante o tradicional ritual de hospitalidade, usam-se dois bules diferentes e servem-se três chás de ervas, um a seguir ao outro.

O que seria da Grã-Bretanha sem o seu famoso “chá das cinco”? Instituída pela duquesa de Bedford, esta cerimónia ainda sobrevive, apesar das condições da vida moderna. De facto, nos próprios escritórios, os ingleses fazem uma pausa para beber o seu chá às 5 horas.

O chá, planta mítica, símbolo da espiritualidade e cultura asiática, é hoje em dia uma bebida universal, tomada e saboreada nos quatro cantos do planeta.

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