Fazendo o intercâmbio valer a pena

Se você é dessas pessoas que gostam da coisa na prática, então deve pensar igual a mim. Nunca gostei de ler livros sobre culinária, mas gostava de ver minha avó cozinhando e ajuda-las nas preparações – e foi dessa forma que me tornei cozinheira de quitutes de mão cheia. Não sei uma única receita de cor, é tudo de cabeça, o que me permite fazer várias experiências e personalizações.

E sou assim com o aprendizado de outros idiomas. Sempre tive facilidade pra aprender uma língua estrangeira, mas nunca consegui ficar três aulas seguidas num cursinho desses que a gente encontra por aí. Eu não aprendi o português começando pelas regras gramaticais – por que aprenderia outra língua desse jeito? Pra mim nunca fez sentido.

Até havia um curso que tinha um método diferente, mas esse era caro demais pra mim. O jeito era aprender músicas estrangeiras e ir traduzindo, até aparecer outro jeito melhor de aprender. E apareceu.

Surgiu uma agência de viagens especializada em intercâmbios de vários tipos – idiomas, inclusive, e fiquei tão interessada que, no segundo dia de funcionamento da agência, eu já estava à porta. Queria fazer um intercâmbio para curso de idiomas e haviam várias opções legais.

O problema era o preço, mas eles parcelavam a perder de vista se eu precisasse. Mesmo assim continuou puxado, mas eu estava tão determinada que acabaria dando um jeito.

Fazer intercâmbio para curso de idiomas no exterior

Correndo atrás

Um detalhe que não contei ainda: sou cadeirante. Tive uma meningite daquelas galopante quando era bebê, ainda, e quase parti dessa pra melhor! Não parti, mas como lembrança, o vírus me deixou essa pequena cortesia. Ao menos tinha a sensibilidade, mas a parte motora das pernas realmente nunca mais se recuperou. Ainda faço fisioterapia e vários tratamentos porque sou pirracenta e sei que um dia elas vão se mexer de novo. Até lá, a gente vai vivendo.

E fiquei pirracenta pra tudo na vida. Entrei para a associação de cadeirantes da minha cidade e, em dois meses, já estava no corpo administrativo dela, em reuniões com a prefeitura, angariando recursos… “É um capeta essa menina!”, o diretor dizia, aos risos, quando eu chegava lá com alguma novidade. Minha teimosia sempre rendeu bons frutos pra associação. E aí me ocorreu: quem sabe ela não podia me ajudar a conseguir fazer meu intercâmbio para curso de idioma?

Imediatamente fui procurar o diretor para conversarmos sobre isso. Eu sabia bem que a associação não tinha fundos para realocar dessa forma, mas poderíamos implantar uma ideia diferente, um motivo diferente para a minha viagem: contatar associações de cadeirantes estrangeiras e promover um intercâmbio de ideias entre elas e a nossa própria associação.

Ainda assim não teríamos como alocar os recursos para a minha viagem, mas poderíamos pleitear isso na prefeitura e conseguir alguma ajuda. E eu confesso: minha ideia inicial não era essa, mas essa era muuuuito melhor do que a minha! Adivinha? Empirracei com ela e resolvi levar adiante até a viagem sair.

E a viagem saiu

Depois de muitas conversas junto à prefeitura e a outros órgãos vinculados, conseguimos uma ajuda de 70% sobre o custo total da minha viagem. Minha família poderia me ajudar com o restante – e eu mesma tinha uma reservinha que poderia usar nesse projeto. Reuni toda a documentação necessária, fizemos contato com outras associações (nessa viagem, fui para os Estados Unidos) e marcamos os encontros.

Nessas associações haviam muitos brasileiros, alguns deles cadeirantes, mas eu queria ter mais contato com os americanos. Afinal, era um intercâmbio para curso de idiomas e eu precisava ter o máximo de contato possível com o inglês para que minha viagem valesse a pena em todos os sentidos. Não adianta nada ir aprender inglês e passar o dia falando em português com a brasucada de lá, né??

Depois de seis meses em terras norte-americanas, voltei pro Brasil, falando inglês quase sem sotaque e com um vocabulário super expandido – inclusive conseguindo conversar tecnicamente sobre deficiências físicas, o que, pra nossa associação, foi primordial.

Logo logo passamos a receber visitas de americanos e canadenses e a trocar ideias com um pessoal cadeirante de Londres. Minha ideia havia se expandido de uma forma que nem eu, ativa que sou, poderia prever. Mas foi ótimo!

A próxima viagem de intercâmbio é para a Espanha. Essa vai demorar um pouco mais, mas vai sair com certeza!

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