Tem criança na mudança

Sempre digo que mudar de endereço é um processo complexo. A escolha do novo lugar, a negociação dos valores (seja aluguel, seja compra), a procura por uma boa e confiável empresa de mudanças, todo aquele processo de encaixotar as coisas e depois desfazer tudo na nova casa… é trabalho que não acaba mais.

Mas não para por aí. Imagine agora todo esse processo com um adicional elétrico e inquieto: as crianças? Pois é. Tanta coisa pra olhar, vigiar, acompanhar e você ainda vai precisar fiscalizar a atuação dessas pequenas pessoinhas – pequenas sim, mas que se movem como uma onda num mar ressacado! “Meu Deus… o que eu faço??”

Mudança de adulto, festa de criança

O dia da mudança, na cabecinha dessas criaturas, é praticamente um dia de aventuras e brincadeiras. Caixas por todos os lados, uma grande e enorme bagunça – além de consentida! Afinal, quem fez aquele estrago todo foram os pais, os mesmos que até então ficavam pedindo coisas chatas como “arrume seu quarto” e “guarde seus brinquedos”. Agora tá tudo bagunçado! Uau!!

E logo começa a confusão. Correrias ao redor das caixas, que agora são castelos medievais ou trincheiras de uma guerrinha de raio laser contra monstros do espaço. Ou então passagens radicais e que por um triz não derrubam as peças das camas que estão apoiadas na parede – agora elas são torres de fortalezas inimigas, galhos sombrios de uma árvore onde se luta contra monstros e vampiros. O sofá, coberto com uma manta, é o trampolim que a molecada deve pular realizando movimentos maluquíssimos no ar para vencer a competição de ginástica olímpica. Ah, sim. Seu sossego, que já não era muito, vai todo pro brejo.

Mudança-com-os-pequeninos-em-casa-não-é-nada-fácil.Na cabeça da criança, dependendo da idade, ainda não tem espaço para a compreensão da seriedade que é a mudança. Coisas de adultos são muito chatas! Elas não entendem o porquê de “gente grande” gostar de ler aquele jornal cheio de palavras e quase nenhuma figurinha, ou assistir aquele programa chato da TV que só fala de político, dinheiro e gente que foi presa. Se dependesse desses pequenos, seria tudo à base de gibi e desenhos animados.

Por isso a tendência é que eles transformem o chatíssimo mundo adulto no divertido mundo imaginário deles, onde os cenários mudam em um único estalo de suas mentes agitadas. Se estiverem entediados, então…

Mas não pode. Então, o que fazer?

Mudança é uma situação perigosa em que nada está no lugar que deveria. Os móveis estão espalhados pela casa, tem caixas por todos os lados, peças de camas e laterais de guarda-roupas apoiados pelas paredes e muita gente trafegando entre isso tudo. Obviamente, não é lugar pra correria nem estabanamento, porque como tem muitas peças simplesmente apoiadas sem firmeza nenhuma, além de objetos frágeis (inclusive vidros) guardados em caixas, o risco de um acidente é muito alto. E nem estamos falando das crianças aqui! Os próprios adultos podem se ferir ao manusear qualquer desses objetos de maneira descuidada. Imagine então uma criança em meio a tanta confusão, correndo, gritando, agitando tudo?

O ideal seria mantê-la afastada daquela situação. Se os avós moram na mesma cidade, veja se as crianças podem ficar com eles até que a mudança seja feita e a nova casa seja arrumada, mesmo que parcialmente. Se não forem os avós, podem ser tios, ou amigos mais chegados. Se as crianças estudam em escola de tempo integral, é só deixar as professoras avisadas caso seja necessário que outra pessoa as busque em seu lugar (caso a mudança termine mais tarde do que o previsto).

Porém, nem sempre essas recursos estão disponíveis. Aliás, muitos prédios residenciais só permitem que mudanças sejam feitas aos fins de semana – o que já elimina de cara a opção da escola. Se não puder contar também com os avós, tios, amigos… o jeito vai ser incorporar os pequenos à aventura da mudança.

Mantenha-os distraídos com outras coisas. Dependendo da idade, as crianças são capazes de passar um bom tempo lendo livros infantis ou histórias em quadrinhos. Se for o caso de seus filhos, providencie alguns exemplares e crie um canto mais calmo em um dos cômodos da casa antiga, um lugar onde eles possam ficar quietinhos lendo, desenhando…

Outra opção é deixar a TV por último e mantê-la ligada, para que eles se distraiam. Quem sabe até deixar o videogame ligado também? É um tremendo chamariz e grande “pacificador” de ânimos! (até que uma das crianças comece a perder, aí pode virar confusão)

Faça-da-mudança-um-processo-bom-para-eles-também.Mas se de todo não for possível, delegue algumas funções às crianças. Dê a elas a “missão” de vigiar o transporte das caixas e de contar quantas estão sendo levadas até o caminhão – pode acreditar, isso vai mantê-las quietas e concentradas no trabalho dos carregadores por um bom tempo. Se elas quiserem carregar coisas também, permita que levem coisas leves e mantenha-as sob vigilância constante. Lembre-se de que a mudança é um ambiente perigoso para elas.

É um trabalho e uma canseira a mais quando tem criança no meio da mudança, mas com paciência e jogo de cintura, é possível  envolvê-las no processo – ou mantê-las afastadas – com segurança.

No comments yet.

Deixe um comentário

*